Diário de Grace

Estou sentada no carro da minha mãe. Tudo a passar rapidamente à  minha frente , conseguia sentir as vibrações do carro e a música a tocar.

-Estamos quase a chegar. Como te sentes? - perguntou a minha mãe enquanto conduzia

Ela era assim , sempre preocupada comigo e a querer saber como me sentia , é assim desde sempre. Por muito que lhe diga , que sim que estou bem , parece que deteta mentiras e sabe sempre o que estou a pensar.

Encolho os ombros em forma de resposta.

-Querida... - ela diminui o volume do rádio e pousa a mão dela sobre a minha -Eu prometo-te que esta vai ser melhor. Fiz imensa pesquisa e acredita, que ela só tem críticas boas. Vais adorar , prometo.

 -Claro... - respondo vagamente enquanto olho pela janela

Por ela vejo ao longe uma praia de areia branca , as gaivotas a voar sobre a água e o sol a refletir no mar. Um tempo depois consigo avistar uma cidade com algumas casas , pequenas lojas , cafés e uma linha de comboio. Naquele momento só me apetecia ir para a linha e esperar o próximo comboio que me levasse dali para fora.

O carro parou , saímos de dentro dele e vi um grande edifício, tinha ar de ser antigo mas com um toque de modernidade. Olhei em volta e avistei um homem com um sorriso no rosto a vir ter connosco.

-Muito prazer em vê-las. Como foi a viagem?-ele estende a mão à minha mãe que o cumprimenta de igual forma

-Também é um prazer conhecê-lo. Foi ótima , obrigada por perguntar. 

Ele olha para mim.

-Prazer em ver-te. Então e a ti como foi a viagem?

-Prazer. Normal. -respondi friamente mas educada para não o desrespeitar

-Não me cheguei a apresentar. Chamo-me Clarke , e sou o diretor desta escola. -ele estende-me a mão

A minha mãe olha para mim numa maneira de me incentivar a apresentar-me.

-Grace. -respondo enquanto lhe aperto a mão

-Bem , Grace , espero que gostes da nossa instituição.

Entramos na escola e senti todos os olhos virados para mim "odiava isso". O diretor guiou-me a um corredor com várias portas e bateu a uma delas.

-Podemos entrar?

Ouço barulhos de dentro do quarto como alguém a mexer-se apressadamente.

-"Pode entrar!" -disse uma voz de dentro do quarto

O diretor abre a porta e faz um gesto para eu entrar. A primeira coisa que vejo quando entro é uma rapariga alta e morena no centro da sala a olhar para mim com um sorriso a tremer. Se não fosse pelo sorriso pensaria que estava a ter um ataque epiléptico.

-Olá! Muito prazer em conhecer-te! Como te chamas? 

Ela falava incrivelmente rápido como se tivesse sido atingida por um raio. Como é que alguém tinha tanta energia?

Ela olha para mim de cima a baixo.

-És tão bonita! E o teu cabelo e olhos são... Incríveis! Pareces a Elsa! -exclamou ela com um ar maravilhado -Ou um gatinho! Dá tanta vontade de abraçar!

Ela estende os braços e tenta agarrar-me , mas desvio-me e faço-a cair.

-Não muito obrigada.- desviei-lhe o olhar

-Espaço pessoal , eu entendo. -Ela levanta-se -Já agora sou a Melissa , os amigos chamam-me Menzi. Então e tu? Qual é o teu nome?

-Esta é a Grace , ela será tua colega de quarto , lembras-te? -o diretor entra

-Pois é! És tão diferente do que eu imaginava! -ela faz uma curta pausa -És ainda melhor!

Ficamos (finalmente) em silêncio durante alguns segundos.

-Menzi , podes apresentar a escola à Grace enquanto eu falo com a mãe dela?

-Estava a ver que não perguntava! Quer dizer... Será um prazer. -responde ela mudando automaticamente de tom de voz

-Muito obrigado. -o diretor sai do quarto

-Bem... Vamos lá! -Ela agarra no meu pulso e leva-me para fora do quarto

Parei e tirei a mão dela do meu pulso caminhando calmamente à sua frente.

Andámos pelos corredores e ela falava , falava e falava sem parar... Os alunos olhavam e cochichavam entre eles. Não gostei daquilo mas sinceramente já estava habituada.

-Aqui são as salas de aula normais. No andar de cima são as de ciências e lá aí fundo no corredor as casa-de-banho das raparigas. As dos rapazes são mais longe, dizem que é para "Não haver confusões". O horário é simples. Às sete da manhã pequeno almoço , depois aulas , meio dia almoço , aulas ou atividades , mas só se tiveres , às sete da tarde tens de estar aqui para jantar , e depois do jantar não sais. Simples.

Descemos umas escadas , caminhámos durante algum tempo e fomos parar ao lado exterior da escola. Um grande pátio com vários alunos a conversar.

-Aqui é onde passamos o tempo normalmente. Alguns podem ficar na biblioteca , nas salas de estudo ou nos quartos se quiserem , mas a maioria dos alunos vem para aqui. Mas para saíres mesmo da escola tens de ter no mínimo dezasseis anos para cima , ou estares acompanhado por alguém dessa idade. Por isso fica comigo que ficas bem.

Olhei de canto e vi uns alunos a olhar para nós e a falarem entre eles. Uns alunos vêm ter connosco.

"Olá! Como te chamas? O teu cabelo é bonito. É natural? De onde vens?". 

Perguntava eles todos uns por cima dos outros. Com o tempo vieram cada vez mais com cada vez mais perguntas. Sentia-me... pressionada... 

"Está tudo bem? O que se passa com ela? Será que ela é muda , surda , ou qualquer coisa assim? Ela está a tremer ou é impressão minha?"

Eles continuavam a falar. Mas finalmente decidi dar meia volta e sair dali sem olhar para trás. Que deja vu... Tantas pessoas , tantas perguntas , tanta escuridão da sombra que eles faziam sobre mim. Senti-me abafada. Continuo a andar até que ouço passos na minha direção e sinto um toque no ombro.

-Está tudo bem? Porque saíste?

Era a Melissa.

Não respondi , apenas tirei a mão dela do meu ombro e continuei a andar.

-Espera!

Ela seguiu-me.

-Passou-se alguma coisa?

Ela olhou para mim com um ar preocupado.

Antes que ela possa dizer mais alguma coisa , alguém interrompe-a. 

Era apenas o diretor a informar-nos que a minha mãe já estava de saída. Fui ter com ela ao lado de fora e vi-a junto ao carro.

-Porta-te bem , alimenta-te , faz todos os trabalhos , obedece aos professores , não te deites tarde... -ela faz uma pausa e coloca a mão dela na minha cara -E lembra-te... És muito forte. És o meu orgulho.

Ela coloca-se atrás de mim , põe-me o cabelo atrás das orelhas e olha para o reflexo do vidro do carro.

-E nunca te deixem dizer o contrário.

Queria ter-lhe dito algo como "Não vaz embora." , "Fica aqui." ou... "Vou ter saudades." Mas apenas consegui dizer:

-Claro...

Ela abraça-me e entra no carro. Fiquei especada a olhar para ele a afastar-se como uma tola a observar os destroços de um navio destruído. Coloquei o cabelo novamente por cima das orelhas.

Um tempo depois vou para o meu quarto arrumar as minhas coisas. 

Alguém entra. Era a Melissa (outra vez).

-Finalmente te encontro! Onde estávas?! O que se passou?! -pergunta a ela sem parar

Não respondi e limitei-me a arrumar a minha mala.

-Está tudo bem? -continuava ela -Se precisares de falar estou aqui.

Não disse uma palavra , nesse momento só queria um minuto de paz e sossego. O resto da tarde fiquei a arrumar as minhas coisas , as minhas roupas (apesar de serem poucas já que vamos ter sempre de usar uniforme) , os meus livros , os meus materiais de arte...

-Pintas? 

Apenas encolhi os ombros.

-Tens algum desenho? Posso ver? -perguntou ela novamente -Que livro é esse? E..Eclipse? Que caderno é esse? É muito pequeno para as aulas. Para que serve?

Peguei no livro e no caderno e arrumei-o com o resto dos meus materiais. Finalmente terminei de arrumar e a Melissa (com um milagre) parou de falar e foi arranjar-me para dormir. Fiquei um tempo a observar a cidade pela janela do nosso quarto. As luzes das casas e das ruas iluminava a cidade , mas nada chegava ao brilho das estrelas e da lua. Até que era bonito. Mas mesmo com tanta beleza só conseguia pensar numa coisa " Isto vai ser uma porcaria".


Comentários

  1. Estou a gostar e à espera de mais desenvolvimentos!

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  2. Encantada com o teu imaginário e a tua destreza com as palavras... Continua Maria! Alimenta esta veia que se nota te dar tanto prazer e te transporta para lugares únicos, só teus.
    Obrigada por os partilhares e nos permitires conhecê-los deste lado. Keep on!!!

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  3. Parabéns. Continua minha querida. Estás no bom caminho. Beijinhos

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  4. Parabéns Maria. Estás no bom caminho. Beijinhos

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  5. Minha neta estou muito contente. Trabalha, trabalha, brinca com as palavras e deixa a tua imaginação à solta. Ainda quero ter tempo para ler o primeiro livro de MARIA QUEIRÓS. Muito bem, minha neta. Fazes os teus pis felizes e eu que toda a minha vida procurei escrever bem, tenho a certeza que na tua idade eu não conseguia apresentar um trabalho como o teu. Vai em frente que o teu Amanhã será promissor. Falarão de ti aqueles que sabem ler e escrever.

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