Duas raparigas que gostam de raparigas ,nos anos 80
Mei-
Estou a arrumar as minhas coisas há horas ,a colocar roupas ,livros ,produtos de higiene e a Elisa ainda não chegou. Não entendo ,disse para esperar por ela ,mas agora não aparece. Não vou chegar atrasada à faculdade por causa disso. Mas enquanto descia e subia as escadas de casa com as caixas nos braços para as colocar no carro ,ela apareceu a correr ofegante de mochila às costas.
-Disse para esperares por mim! -diz ela com falta de ar
-Eu tinha de começar a arrumar as coisas.
-Eu sei ,eu sei ,mas estou aqui agora. Tens mais alguma coisa para colocar no carro?
-Não , já arrumei tudo.
-Não arrumas-te nada!
Simplesmente paralisei quando ela disse aquilo.
-Do que é que estás a falar?
-Tada!
Estendeu os braços e entregou-me uma boneca de gatinha que eu usava quando era criança. Aquele peluche ajudava-me a acalmar.
-Ela não estava com um olho a faltar?
Verifiquei a boneca ,mas estava realmente com o olho perfeitamente cozido.
-Arranjei-a. E quero que a leves contigo para a faculdade.
-Não vou fazer isso.
Entreguei-lhe a boneca e fechei as traseiras do carro.
-Porque?
-Eu já não sou uma criança , não vou levar uma boneca para a faculdade.
-Por isso mesmo! Quero que passes vergonha à frente dos teus colegas.
Voltou a pôr-me a boneca das mãos e franzi-lhe a testa.
-És mesmo uma peste.
Esfreguei-lhe o cabelo preto e ela riu-se.
Dei-lhe a boneca ,entrei no carro e coloquei o cinto.
-Vá ,vai para dentro. Deixei-te comida no frigorífico se quiseres e faz os trabalhos da escola. -digo enquanto tento ligar o carro
-Espera ,espera!
A Elisa inclinou-se na janela do carro aberta com a boneca na mão.
-Leva-a.
Estendeu-me a boneca e olhei para elas por uns segundos.
-Elisa ,já te disse que não sou uma criança.
Desviei-lhe o olhar ,mas ela não desistiu.
-Por favor! Eu sei como ficas quando estás em estresse e tenho a certeza que ela te vai dar jeito.
-Eu safo-me bem.
-Leva-a ,por favor.
Ponderei por uns segundos. Uma jovem adulta de 19 anos com uma boneca na universidade. E se alguém entrasse e visse a boneca? Com certeza achariam ridiculo. Mas a Elisa não desistia e continuava com a boneca estendida para mim.
-Está bem. -aceitei num suspiro -Eu levo-a.
-Boa. -pôs-ma na minha mão e fez uma expressão vitoriosa enquanto voltava para o passeio.
-Boa. E boa sorte com a universidade e,vai mandando notícias.
-Eu escrevo-te se tiver tempo.
-Quero uma carta a contar tudo sobre a faculdade no final da semana. Como é o quarto ,as pessoas o que podes fazer e se tem rapazes giros!
Pareceu ficar logo entusiasmada.
-Ainda não tens idade para esse tipo coisas.
-Até podes conhecer um!
-Vou para a universidade para estudar ,não para namorar.
-És uma seca.
-Vai para dentro e deixa-me ir que ainda chego atrasada por tua causa.
-Pronto ,pronto. Vai lá.
Liguei o carro ,mas antes que pudesse arrancar.
-Dá cá a mão!
Ela estendeu-me a sua mão e agarrei-a com a minha.
-Boa sorte.
-Obrigada.
Larguei-lhe a mão e arranquei com o carro. Pelo vidro lateral consiga vê-la a acenar levemente da caixa de correio.
Respirei fundo e continuei a conduzir. Em direção à universidade.
Ou a um trânsito gigante na autoestrada ,claro que outros alunos também iriam de carro… Sabia que isto ia acontecer. Fiquei horas ali ,mas era o que tinha de ser para chegar lá ,então mantim a calma e esperei que se movessem.
Sara-
A minha mãe estava em casa para se despedir de mim ,e tenho a certeza que obrigou a minha irmã a estar lá.
-Tenham cuidado na estrada.
-Eu sei ,mãe. Não sou eu que vou conduzir ,vai ser o Daniel.
-Ainda bem ,tu és um perigo na estrada. -diz a minha irmã que nem parecia dar a mínima para o que se passava -Da última vez quase me matavas.
-Foi um acidente.
-Eu ía a passar e tu quase ías contra mim.
-Talvez tenha feito alguma pontaria.
-Engraçadinha.
-Parem com isso ,vocês duas. -a minha mãe aproximou-se de mim e colocou-me as mãos nos ombros -Boa sorte com a universidade.
-Obrigada ,mãe.
Ela olhou para a minha irmã e ela soltou um longo suspiro.
-Não te mates.
-Obrigada ,SW.
-Não me chamas isso.
-Como queiras ,SW. -entrei no carro no lugar da frente. O Daniel estava no lugar do condutor e a Marcela no lugar de trás com as malas. Era muita mala.
-Adeus ,senhora William! -despediu-se a Marcela a tentar ser vista atrás das malas
-Adeus ,Marcela.
-Adeus ,SW! -acrescentou ela
-Hugh.
Desatei a rir e o Daniel arrancou. Acenei-lhes da janela e a Marcela tentou fazer o mesmo ,mas acho que não percebeu que não conseguia ser vista.
Durante grande parte da viagem ouvimos música da cacete que preparei com os grandes êxitos. Eu queria colocar algumas bandas que eu gosto ,mas a Marcela não gosta de Rock e ao Daniel causa-lhe dor de cabeça. Às vezes apanhamos um trânsito danado. Foi horrível! Nem eu nem a Marcela aguentamos mais. Jogávamos os três ao pedra ,papel ,tesoura ,eu adorei ,estava sempre a ganhas ,mas eles detestaram e sugeriam outras coisas. A viagem durou horas e dormimos um bocado ,menos o Daniel que tinha de conduzir. Hehe. A comida toda que levámos para a viagem desapareceu no dia seguinte ,comemos todas as batatas e bolachas que levávamos. A Marcela ficou passada com isso. Mas depois voltámos a dormir.
Mei-
Finalmente cheguei a universidade. Consegui estacionar lá perto ,mas ainda tive de fazer uma pequena caminhada. A universidade ficava mesmo à beira de uma pequena vila. Era agradável ,mas o que mais queria naquele momento não era ver as montras das lojas ,nem ouvir os outros tipos a falarem coisas estúpidas ,o que mais queria era chegar ao meu quarto ,arrumar as minhas coisas e ver o horário das aulas mais uma vez. Cheguei ao edifício da universidade e os alunos estavam todos a comprimentarem-se e a rirem. Eu só quero chegar ao meu quarto.
Sara-
-Finalmente.
Espreguicei-me ao sair do carro do Daniel ,mas a paz não durou muito.
-Nada de preguiça ,tem muita coisa para carregar.
A Marcela já estava a pegar nas suas malas e caixas e o Daniel nas suas.
-Não achas que exageraste um pouco nas malas?
As caixas estavam mesmo pesadas e o pior é que metade eram coisas dela.
-Eu gosto de estar prevenida ,trouxe dois de cada coisa que me pode fazer falta!
-O quê por exemplo? Chumbo?...
Tentei levantá-las e acabei por conseguir. Obrigada flexões.
Entrámos no corredor dos dormitórios e tinha um monte de estudantes a entrar e a sair ,quase que deixava as caixas todas caírem em cima de nós. Finalmente cheguei ao meu quarto e pousar as caixas ,Aleluia… Pousei logo as caixas e deite-me na cama de braços estendidos. É preocupante não os ter sentido pousar? Enfim… Descansei um bocado ,mas tive de começar a arrumar as minhas coisas ,e claro ,escolher a roupa que vou usar hoje à noite! Vai haver uma grande festa na discoteca da vila e eu não posso perder essa oportunidade! Mas tinha de tomar uma grande decisão…
-Calças ou vestido?
Adorava aquelas calças ,eram muito confortáveis ,mas eu arrasava naquele vestido. Porquê uma escolha tão difícil?!
Mei-
Acabei de arrumar as coisas e sentei-me na secretária a ler um livro de biologia ,mas quase que se tornava impossível com os estudantes a falar e as raparigas a andar de saltos altos no corredor. Nem morta que vou para uma discoteca. Detesto dançar ,beber e nem teria ninguém para conversar lá. Recebia muito mais se estudasse no quarto.
Sara-
Fui para a discoteca a pé e encontrei-me com a Marcela e o Daniel à minha espera na porta.
-Tudo bem?
-Olá ,Sara! Estás tão bonita! Essas calças ficam-te mesmo bem!
-Obrigada ,Marcy.
-Estou tão entusiasmada! A nossa primeira festa universitária!
-Eu também!
-Vá vamos! Não viemos para ficar aqui fora!
A Marcela entrou e antes que o Daniel também o pudesse fazer pus-lhe o braço no ombro.
-Ela obrigou-te a vir ,não foi?
-Sim…
-Vá ,anda. Vai ser divertido.
-Como queiras…
Entrámos e já tínhamos perdido a Marcela no meio das pessoas. Ela tinha o cabelo colorido e com as luzes a piscar em cores apenas piorava para a tentar reconhecer no meio de todos. Encontramo-la sentada numa mesa à nossa espera.
-Estava quase impossível de passar. Parece o jogo do mata ,mas com mais pessoas. -disse ela
-Nem me digas nada.
Sentamo-nos e tentámos recuperar o fôlego. Passar por tanta gente foi horrível. Tínhamos literalmente de nos espremer!
-Querem pedir alguma coisa para beber? -perguntou ela
-Eu não quero nada. -respondeu o Daniel calmamente
-Mais daqui a pouco ,ainda estou exausta…
Passado alguns minutos decidimos experimentar algumas bebidas do bar ,a Marcela não gosta muito de álcool e o Daniel não bebe e ponto ,apenas pediu uma cola. Já eu estava disposta a experimentar coisas novas! Algumas souberam mal ,mas outras até eram boas. Pelo menos assim sei o que beber da próxima vez.
A música que estava a tocar era muito boa e fomos dançar ,com nós quero dizer eu e a Marcela ,o Daniel não gosta de dançar ,mas acabámos por puxá-lo para a confusão.
Foi tão divertido!
Mas…de manhã… Nem tanto. Quase não me levantava e vomitei um bocado ,a Marcela a mesma coisa. Mas tínhamos de nos despachar para as aulas. Fui para a minha aula com o Daniel e tinha de me apoiar ao ombro dele para não adormecer. Nas aulas dormir um bocado ,soube MESMO bem. Mas tive de prestar atenção nos restos das aulas… E sempre que me distraía o Daniel chamava-me a atenção.
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