Diário de Grace parte.5
Lembras-te de ontem quando disse que esperava que a Melissa não se transforma-se numa detetive e andasse atrás da Nina por todo o lado?
Bem , foi exatamente o que aconteceu e sim , eu fui arrastada para isso. Sinto-me como se fosse o Watson e ela o Sherlock Holmes , porque é que eu tinha de ser a assistente disto tudo? Porque é que eu estou metida aqui sequer? Pois claro... Não tenho outra opção , se eu não estiver aqui a Melissa vai fazer algum descuido , vai ser descoberta , a Nina vai descobri-la , fugir e depois eu vou ter de ouvir mais teorias da Melissa de o porque de ela desaparecer.
-Gracy! Gracy! -Sussurrou-me -Olha!
Olhei para a Nina ,ela lia Crepúsculo.
-Eu disse-te!
-O quê? Está a ler Crepúsculo.
-Exatamente! E Crepúsculo tem o quê? -esperou que eu respondesse , mas ela foi mais rápida e cortou-me a fala -Vampiros!
-Gosta de livros de vampiros.
-Ou talvez esteja a aprender técnicas vampiristicas.
-Melissa.
-Sim?
-Queres falar com ela?
-Sim!
-Então anda.
Saí do nosso "esconderijo" à beira das máquinas de vendas e caminhei até à Nina.
-Espera! Onde é que vais?!
A Melissa foi atrás de mim meio que... Escondida atrás de mim?
-Olá. -cumprimentei-a que se assustou e tal deu novamente um pequeno pulo
-Olá.
-Olá!
Parecia que a Nina tinha ficado assustada quando viu a Melissa , pois quase que se estremeceu.
-É um prazer conhecer-te! Eu queria muito falar contigo , mas estavas sempre a desaparecer. Mas de resto , como te chamas?
-N-Nina.
-Estavas a a ler Crepúsculo?
-Sim...
-Fixe! Qual é a tua personagem favorita?
-A Alice.
-Queres vir almoçar connosco? A não ser que tenhas companhia , claro.
Sei que não era a intenção , mas a forma que a Melissa disse aquilo pareceu ligeiramente arrogante , ao ponto da Nina se simplesmente ir embora.
-O que é que se passou?
Balancei a cabeça e respondi.
-Esticaste a corda.
-Como assim?
-Estás a forçá-la a ter uma conversa contigo.
-Eu estou só a tentar encontrar ponto em comum com ela. -Respondeu com um ar inocente ,mas logo voltou com o seu sorriso radiante ,o que me irritou profundamente-Para conseguir-mos ser amigas dela!
Aquilo pôs-me o sangue a ferver. As intenções podiam ser boas ,mas a maneira como as pessoas tentavam invadir o espaço das outras... Não sei. Apenas me irrita.
Mas... Ela sorriu. Mas um sorriso diferente. Era um sorriso doce , juntamente com um olhar carinhoso.
-Odeio ver as pessoas sozinhas. Eu gosto de estar sempre rodeada de pessoas ,ouvir as suas conversas ,mesmo que não estejam a falar comigo ,a rirem de piadas que não entendo ,mas que na mesma me divertem ,desvendar as pessoas pelo o olhar. É como se o mundo todo estivesse cinzento ,mas quando estou rodeada de pessoas ,tudo se ilumina e. E quero que mais pessoas se juntem a isso. Não quero que ninguém se perca.
Aquilo foi... Não consigo tirar essa frase da cabeça. Parecia que uma flecha me tinha acertado , fiquei toda arrepiada. Nunca ouvi alguém a falar de uma maneira tão... Verdadeira. Não sei se era ou não ,mas sentia que era.
De repente ela agarrou-me as mãos e aproximou-se de mim.
-Tal como fiz contigo ,Gracy! E tu fazes-me sorrir como ninguém. E espero que eu também te faça sorrir.
Eu... Eu não sei. Eu só não sabia o que responder. Tenho pensado tantas coisas horríveis sobre ela.
Porque é que não consigo sorrir... Talvez porque... Todos os sorrisos que ofereci ,foram mortos ,juntamente comigo. Talvez porque... Eu matei o meu sorriso ,como o matei a ele.
-Estou esfomeada ,vamos buscar qualquer coisa para comer? -Perguntou a Melissa -Gracy? O que se passa?
Não aguentei. Desatei a soluçar e fugi. Voltei para o quarto e apenas sentia as lágrimas as escorrerem-me pelo rosto ,uma enorme falta de ar ,como se a minha garganta estivesse com passagem de ar entredita.
Eu lamento. Lamento por o ter morto, lamento por terem de agir como se fosse normal ,como se não fosse uma aberração. Lamento. Lamento tanto.
A seguir , só senti o calor do corpo da Melissa à minha volta.
-Está tudo bem. Tu estás bem. Eu estou aqui.
Foi aquilo que ela disse. Apenas isso. E foi o suficiente.
Não a consegui abraçar de volta ,os meus braços estavam congelados. Parecia que a Melissa me tinha impedido de mover ,porque não consegui fazer nada , não a conseguia abraçar , não conseguia falar por muito que tentasse. Mas também , não queria. Não queria mexer-me , não queria sair dali. Odiava aquela sensação ,mas adorava a maneira de como ela estava a agir.
O resto do dia foi tranquilo. No fim das aulas ,pedi á Melissa para sair um bocado e me deixar sozinha. E foi o que ela fez ,ela saiu e só voltou á hora do recolher. Mas continuou sem me dirigir uma palavra ,apenas as necessárias. Quando ela se virou para se deitar. Olhei e abri a boca para falar.
-O-obrigada. -Gaguejei ,sem motivo ,mas gaguejei
-Não tens de agradecer. Sempre que precisares. -Respondeu suavemente -Boa noite.
Não consegui ler nessa noite ,nem sabia mais o que dizer. Mas os cobertores estavam mais suaves do que o normal e o ar ,bem mais leve.
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