Duas raparigas que gostam de raparigas nos anos 80 parte.3
Enquanto ela mexia nuns fios eu não conseguia parar de olhar para ela. Eu não sei ,eu só… Olhava para ela. Queria conhecê-la melhor ,mas ao mesmo tempo não queria invadir o espaço dela.
-Tu… Queres fazer uma pausa e ir comer qualquer coisa?
Olhou para mim um bocado confusa.-
-Ficas sempre aí durante horas e nunca fazes uma pausa.
-Pensei que querias ter isto arranjado.
-Sim ,mas também gostava de te conhecer melhor. Se tu também quiseres ,claro.
Mei-
Isto quer dizer que ela quer ser minha amiga? Ou está só a tentar e simpática.
-Ok.
-A sério?
-Sim ,eu também te quero conhecer melhor.
-Boa. Vamos?
-Claro.
Caminhamos pela vila ,rimos bastante e fomos até um café. Ambas pedimos um café expresso para nos dar energia ,eu pedi um donut ,sei que está cheio de açúcares ,mas eu adoro doces! Normalmente sujava-me toda de açúcar à volta da boca e a minha irmã gozava comigo a dizer que eu era uma esfomeada ,mas a Sara apenas e riu ,não um sorriso de troça ,mas como se a minha figura lhe metesse ,em vez de isso me chatear ,apenas me fez rir com ela. Não entendia a piada ,mas mesmo assim ,acho que a graça era essa. Saímos com mais dois cafés nas mãos e fomos de volta para a universidade.
-Sabes ,eu nunca conheci uma miúda que soubesse arranjar coisas.
-Devo sentir-me elogiada? -brinco
-Sim ,sim! Bem… Sei lá ,só fiquei impressionada.
-Seja como fôr ,obrigada.
Viro a cara e observo as janelas das lojas e das pequenas casas a refletirem os raios do sol alaranjados.
Quando voltamos para a universidade continuei com os arranjos e a Sara me observava.
Sara-
Passado uns dias ,finalmente ficou consertado.
-Boa! -Gritei abraçando-a
Ela não me abraçou de volta e eu soltei-a continuando a sorrir.
-Tu és absolutamente fantástica!
-A sério?
-Sim!
-O-obrigada.
Ela parecia meio constrangida e estava com as bochechas ligeiramente rosadas. Será que exagerei na animação?
-Está tudo bem? -Perguntei
-Sim ,tudo bem. Eu só… Não oiço isso muitas vezes. -Responde virando a cara e mexendo no cabelo preso num rabo de cavalo baixo
-Mas devias. Fazes coisas incríveis e és super inteligente.
-Obrigada.
-Sempre que precisares eu digo-te.
-Tu também fazes coisas incríveis.
-Tipo o quê? -Sei que ela só estava a tentar ser simpática ,nunca lhe mostrei nada que soubesse fazer na perfeição
-Bem…
-Não te tens de esforçar ,eu não sou muito impressionante. -Rio-me
-Desculpa…
-Nah. Tudo bem ,um dia tens de vir comigo treinar beisebol ,aí é que ficávas impressionada.
-Parece-me bem.
-Quando vier o calor ,vamos tu ,eu e os outros fazer um piquenique. O que me dizes?
-Por mim ,sim.
-Boa ,depois do natal falamos melhor disso.
Mesmo com o frio e a chuva às vezes ia para o campo desportivo treinar ,era muito melhor que a parede de casa ,sem dúvida. Durante o resto dos meses de aulas ,a Mei ajudou-me a estudar para os testes. Passámos bastante tempo juntas desde aí. Mesmo nas férias enviava-lhe cartas a contar os dias e ela enviava-me a resposta passado umas semanas. Passei o natal com a minha irmã e a minha irmã ,consegui fazer-lhe uma partida e fingir que lhe tinha colocado a consola no forno ligado ,mas ela vingou-se e fez-me acreditar que os meus equipamentos e beisebol tinham ido para o lixo. Juro que quase peguei no taco de beisebol e lhe bati na cabeça , só não o fiz porque a minha mãe apareceu e impediu-me. Visitei as minhas outras duas irmãs e entregar-lhes algumas bolachas de presente. Fui a casa da Marcy e do Daniel. Bem que tentamos fazer algumas sobremesas ,mas não resultou muito bem e sujámos a casa toda ,a mãe da Marcy obrigou-nos a limpar aquilo o dia todo ,incluindo o que não sujámos. Tirei fotos com toda a gente ,a minha irmã foi mais difícil. Tirei-lhe uma fotografia enquanto jogava na sua consola à frente da televisão e ela quase me matava
Mei-
Quando voltei para casa ,a minha abraçou-me em lágrimas. Contou-me que a nossa mãe gritava bastante mais com ela e lhe começou a bater durante as discussões desde que saí. Fui falar com ela sobre isso e ela começou a berrar-me na cara e a levantar-se a mão.
-A mãe dela sou eu e não tu. Eu educo da minha maneira.
-Ela é uma criança.
-É uma adolescente.
-Não deixa de ser uma criança. Eu também já fui uma criança!
Ela não me deixou continuar que logo deu-me um estalo na cara. O natal passámos as duas em casa. Tentei distraí-la de tudo o que se passava levando-a a pequenas feiras de natal na cidade ,decorando a casa com ela ,fazendo um jantar bastante preenchido. Ela pareceu animar-se. Dei-lhe alguns presentes ,como roupa ,as minhas maquilhagens que não usava há algum tempo ,uns acessórios de cabeça e o meu telefone de fio. Pelo menos pensei que lhe estava a dar isso tudo ,mas descobri que ela já os usava quando eu não estava. Ela também me de alguns presentes ,deu-me roupas para a primavera , cadernos para as minhas anotações e uma câmara fotográfica nova. Estava-me a dar jeito ,a minha já estava a ficar toda avariada e não conseguia arranjá-la por nada ,ainda fui a uma loja de eletrônicos ,mas também não podiam fazer nada. Recebi cartas da Sara ,da Marcela ,uma da Sucy e da Gaby. Pelo menos aí tinha algo para me ocupar ,enquanto não cuidava da minha irmã.
Quando voltei a minha irmã deu-me um grande abraço enquanto as lágrimas dela me molhavam o ombro. E eu disse-lhe que ela iria pagar-me um vestido novo ,pelo menos conseguia fazer rir no meio do choro.
Voltei para a universidade e fui logo para o meu quarto. Deitei-me com um livro ,mas comecei a pensar na minha irmã. Não me permitiria ficar aqui ,sabendo que a minha irmã está em casa a sofrer sozinha. Mas no dia seguinte ,fui abraçada pela Sara e a Marcy. Durante o almoço ,sentei-me com eles e todos falavam das suas idas a casa.
-A tua irmã estava para te fazer de perú. -Diz a Marcy a Sara
A Sara ri.
-Eu é que ía fazer dela uma bola de beisebol.
Aquilo fez-me rir um bocado ,eu não tinha coisas engraçadas para contar ,mas era bom ouvir as histórias deles. Mesmo já tendo o mini frigorífico arranjado ,a Sara continuava a convidar-me para passar tempo no quarto dela ,eu lia os meus livros e fazia os trabalhos enquanto ela lia BD de super heróis e mostrava-me fotografias das férias.
-Esta é a minha irmã, a Silvy.
-Realmente,parece que te quer matar. -Rio-me
-É mesmo. E estas são a Claire e a Nora. -Diz enquanto me mostra a foto de duas raparigas mais novas
-São tuas irmãs?
-Sim. Cuido delas desde pequenas e elas sempre me chamaram de irmã mais velha ,por isso acabou por pegar. Também tens irmãos?
-Tenho uma irmã. Chama-se Elisa.
-Mais nova?
-Sim.
-Boa. Clube das que têm de aturar os irmãos. -Ela estende-me a mão e choco com hesitação
Mas não deixava de pensar numa coisa. Ao olhar para a fotografia da Silvy , não conseguia tirar da cabeça que ela não se parece nada nem com a Sara nem com a sua mãe.
-Posso fazer uma pergunta?
-Claro , à vontade.
-A tua irmã,nem tu são parecidas com a tua mãe. -Afirma ,sei que não é uma pergunta ,mas parece-me falta de educação Perguntar o porquê
-Ahhh! Isso é normal ,as pessoas costumam ficar confusas.
Não consegui entender ,mas ela continua.
-Eu e a minha irmã somos adotadas ,a minha mãe adotou-nos quando éramos pequenas.
-Oh! Está bem , está esclarecido. -Fiquei tão envergonhada ,mas ela bate suavemente o seu ombro contra o meu
-Não te tens de preocupar ,muito gente confunde. Não és a única. Foi estranho explicar isso e ao Daniel quando perguntaram pela primeira vez ,mas já estou habituada a responder às pessoas.
Eu não sabia o que responder e penso que ela percebeu ,pois continuou a falar normalmente.
-Mas tem mesmo piada vê-la fula comigo. Uma vez apaguei-lhe a consola enquanto ela jogava na consola dela e correu atrás de mim pela casa inteira. -Ela ri-se enquanto fala -Acabamos por ficar as duas de castigo depois disso. A tua irmã também é assim?
-Não ,a Elisa é um bocado mais velha ,ela já está no secundário e nunca discutimos. Ou eu estava fechada no quarto ou ela estava a sair com os amigos. Mas damo-nos bem.
-Isso parece fixe. -Responde com um sorriso vendo as fotografias
-Sim. E é.
Apenas consigo lembrar-me dela a chorar agarrada a mim ,espero que a nossa mãe não esteja a implicar tanto com ela.
E a promessa que eu e a Sara fizemos realizou-se. Fizemos um piquenique eu ,a Sara ,a Marcy ,o Daniel ,a Sucy e a Gaby. O sol estava quente ,mas a brisa fresca era relaxante ,pousamos uma toalha no chão e trouxemos alguma comida. Estava sentada de pernas estendidas a aproveitar a sombra ,mas quando abri os olhos vi o rosto de Sara a olhar para mim com um sorriso.
-Vamos jogar. Queres?
Ela estava de cabeça para baixo e inclinada atrás de mim e eu apenas olhava para cima e sorria.
-Que jogo?
Ela levantou-se e atirou uma bola ao ar ,apanhando-a com grande facilidade.
-Beisebol.
-Não sei jogar beisebol.
-É simples ,eu ajudo-te.
Não tive grande opção ,ela caminhou uns metros à frente e acenou-me com a bola branca com listras vermelhas cozidas na mão. Levantei-me e fui ter com ela e a Gaby e a Sucy. O Daniel e a Marcy ficaram sentados na sombra a observar-nos.
Estávamos em um quadrado ,a Sucy abaixada a metros de distância e a Gabi afastada dela. Fiquei parada a tentar entender o que fazer ,não era uma grande fã de desporto ,mas a Sara aproximou-se de mim com um taco na mão.
-Limita-te a lançar a bola com o máximo de força que conseguires. Eu vou bater nela e depois vou correr ,tal como a Gaby. Quem completar primeiro vence.
Não tive tempo de responder ,pois ela já se tinha afastado a correr ,ajeitando o rabo de cavalo e pondo-se em posição com o taco na mão. Não tinha assim tanta força ,mas penso que o lançamento até foi bom já que a Sara acertou e ela e a Gaby desataram numa correria. A Gaby tropeçou e a Sucy desatou a rir ,mas a Sara continuou a correr e quando terminou ,saltou e gritou bem alto alegremente. A seguir correu até mim.
-Vês? Fácil ,não é?
-Parece-me interessante.
-Queres trocar de posição comigo? Estou acostumada ao taco ,mas também quero praticar o lançamento.
-E-eu não sei como! -gaguejei
-Eu ensino-te. Anda.
Agarrou-me a mão e pôs-me o taco nas mãos.
-Certifica-te que os teus pés estão alinhados e que não tens a cintura muito inclinada ,mantém-na correta e quando fôr para acertar na bola gira-a. Mas cuidado para não te desequilibrares. Olha que isso já me aconteceu e levei com a bola na cara. -ela riu
-Assim? -questionei tentando colocar-me na posição correta
-Está quase ,mas… -ela aproximou-se mais e pôs-se atrás de mim -Posso?
-Podes.
Ela colocou-me as mãos na cintura e endireitou-a e logo de seguida alinhou-me os ombros ,virando a minha cara para a direção correta ,agarrou-me nas mãos enquanto pegava no taco e pôs-se em posição atrás de mim.
-Mantém o olho da bola e nunca desvies.
-Certo.
-Quando a bola estiver a vir…
Fez uma pausa dramática e imaginei a bola a vir ,virando num grau de 90° graus. Ela largou-me e sorriu.
-Exatamente. Perfeito! Agora… -correu para o sua colocação e preparou a bola -Vamos começar.
Passámos o resto da tarde a jogar beisebol ,foi muito divertido ,das primeiras vezes errei ,mas estava a apanhar-lhe o jeito.
A Sucy e a Gaby já se tinham sentado na toalha com os outros a descansarem ,mas eu e a Sara continuamos. No momento em que ela me atirou a bola e acertei com o toca fazendo-a voar para longe ,eu paralisei e a Sara agarrou-me ,derrubando-me ao chão e sujando-me de terra. Rimos as duas ,pelo lançamento ,pelo facto de estarmos todas sujas… Foi divertido.
Depois dessa longa tarde ,as raparigas foram para os balneários tomar um longo banho. Finalmente ,água quente e toalhas macias à volta do corpo. Sentamo-nos nos bancos do balneário para nos vestirmos e conversarmos.
-Deviam ter visto aquele lançamento! -Começou a Sara excitada ,abaixando-se e abanando as mãos -Deve ter voado para o lago!
-Não exageres. -Ri-me
-Estás a brincar? Foi uma bela me… de um lançamento! E disseste tu que não gostavas de desporto. -Continuou encostando o seu ombro ao meu
Logo de seguida levantou-se e começou a vestir-se.
-Temos de repetir isto. -Disse ela
Os meus olhos focaram-se nela enquanto se vestia ,o corpo era bem definido para uma mulher. Provavelmente devido aos seus treinos para o beisebol.
-É mesmo! Foi incrível! -Concordou a Marcy
-Tu estiveste na toalha o tempo todo. -Ripostou a Sara com a sobrancelha alçada
-E? Eu gostei.
-A Marcy tem razão. Temos de repetir ,para a próxima levo uma câmara e tiramos fotos todas juntas. -Disse a Gaby
-Por mim parece-me bem. Principalmente se voltarmos a jogar beisebol. Foi muito divertido. -Respondeu Sucy
-Foi ,não foi!? Sabia que ías gostar! -Aproximou-se Sara pegando nas mãos de Sucy ,que sorria e ria -Mas ficas já a saber que vais comer terra.
-Sim ,sim. Veremos.
Elas continuaram a falar e a Gaby e a Marcy riam-se daquilo ,mas por alguma razão ,aquilo não me dava vontade de rir. Porque raios não me podia rir com elas ,porque é que me apetece sair dali sem dizer uma palavra? Apenas me levantei e vesti-me enquanto elas se riam das suas conversas.
-Então e tu ,Mei? -Virou-se Sara com um sorriso -Também queres repetir? -Aproximou-e de mim e apoiou-se no meu ombro -Não posso ficar sem uma das minhas melhores batedoras.
-Sim ,pode ser. Foi divertido.
-Boa! Vai ser incrível!
-Sim ,vai.
Depois disso ,fomos todas para os nossos quartos ,mas dessa vez, a Marcy e a Sucy trocaram de quartos e passaram a noite no quarto umas das outras. A Gaby e a Sucy partilharam quarto ,tal como a Marcy e a Sara. Eu preferi ficar no meu quarto , também não teria onde dormir. Só se dormisse no chão. Não muito obrigada.
Sara-
Eu e a Marcy falámos imenso tempo sobre o dia ,ela foi-se deitar primeiro com o seu peluche ,mas eu fiquei algum tempo a olhar para o teto. Estive muito perto da Mei ,toquei-lhe na cintura ,nos ombros e virei-lhe o queixo para tão perto da minha cara. Conseguia sentir o calor do Sol a queimar-me ,mas não só, o calor do corpo dela a transferir-se para o meu. O calor que agora me estava a atingir novamente. Fechei os olhos e liberei o ar dos pulmões.
Bem que tentámos marcar outro dia para passarmos uma tarde no parque ,mas o tempo não melhorou nada. Esteve a chover todos os dias. Nas tardes costumávamos ficar no meu quarto a conversar e a estudar. O meu exame de educação física estava a aproximar-se e eu tinha de me preparar devidamente.
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