Duas raparigas que gostam de raparigas nos anos 80 parte.4

Mei-
Enquanto estudava ,uma chuva forte bateu na janela e encharcou-me a mesinha de cabeceira inteira ,que antes estava perfeitamente seca ,e os meus apontamentos completamente molhados. Fui à janela para fechá-la ,mas ao olhar por ela ,conseguia ver alguém à chuva. Era a Sara ,ela estava a dar várias corridas à volta do campo. Desci todo o edifício e fui ter com ela.
-Sara! -Chamei por ela
No início não me ouviu ,mas depois de um tempo reparou em mim e correu na minha direção.
-O que é que fazes aqui? -Perguntou tentando abafar o som da chuva a bater -Está a chover!
-Isso eu consigo perceber. Mas porque é que estás aqui?
Ela fez uma pausa antes de responder.
-Vim correr. 
-Porque? -Mudei de ideias antes que ela pudesse responder -Não me interessa. Vamos para dentro. 
Peguei na mão dela e levei-a para o meu quarto. 
Virei-me para lhe fazer um chá
-Porque é que estavas lá fora? 
-Eu só queria refrescar-me. -respondeu  
Avancei para lhe entregar o chá ,ela tirava um cigarro do bolso e um isqueiro.
-Importas-te? -Perguntou apontando para o cigarro
-Sim.
Ela guardou-o. Odeio cheiro de cigarro e não iria permitir que o meu quarto ficasse com isso impregnado. Ignorei aquilo e entreguei-lhe a caneca.
-Está uma chuva horrível ,vais ficar doente assim.
Ela apenas encolheu os ombros e bebeu um golo do chá.
-Correr ajuda-me com o estudo para os exames. E eu quero mesmo tirar boas notas.
-Podes querer tirar boas notas ,mas tens de arranjar outro método de estudo. Se ficares constipada é que não vais mesmo conseguir estudar e manter-te concentrada.
-Eu sei. Mas…
A sua chávena começou a tremer ,derramando chá a ferver nas suas pernas. Peguei rapidamente na chávena e pousei-a na mesa de cabeceira. Agora a Sara estava com os cotovelos pousados nas pernas e as mãos a tapar a cara ,com o seu cabelo a tapá-la e a soluçar incontrolavelmente. Abaixei-me e tentei desviar as suas mãos.
-Sara ,o que se passa? -Perguntei calmamente 
-Eu não… quero falhar… -soluçou entre as mãos -Eu quero conseguir isto pelo menos… -continuou
-Não vais falhar.
-Ir para professora de educação física nunca foi a minha primeira opção. -Disse colocando as mãos nas pernas -Eu queria ir para atleta ,mas nunca consegui entrar em nenhuma equipa. Se falhar nisto ,não vou ter mais oportunidades no desporto. E o que farei depois disso?
Ela voltou a chorar e eu apenas a abracei ,sentindo o meu ombro a molhar devido às lágrimas. Ela soluçava no meio do choro e eu tentava fazer-lhe festas nas costas.
-O que é que faço se falhar ,Mei?...
-Continuas a tentar. 
-Mas não terei tantas oportunidades…
-E achas que no nosso ramo é fácil? Ciências é muito difícil e desporto também é ,mas noutro caso. -Afastei-a e agarrei-lhe os braços -É difícil , principalmente para nós. Não entraste numa equipa ,mas ainda te podes tornar numa professora. Podem muitas vezes não nos levarem a sério ,mas isso não apaga o esforço que tiveste para alcançar tal cargo. Só tu podes apagar tal caminho ao desistir. Diz-me ,tu queres desistir e deitar fora todo o teu trabalho?
Ela balançou a cabeça.
-Não.
-Então nunca desistas ,eu vou ajudar-te com o que puder. E se precisares ,analisar outras opções ,mas tenho a certeza que não vai ser preciso ,eu estarei aqui.
-Obrigada ,Mei. -Soluçou abraçando-se a mim com os braços à volta do meu pescoço 
Abracei-a à volta da cintura e fechei os olhos.
-De nada.
Fiquei com ela até se acalmar e sair do abraço ,limpando o resto das lágrimas. Ela riu.
-Desculpa. Molhei-te a camisola.
-Tudo bem.
-Muito obrigada. -Ela colocou-me a mão no ombro 
-Não tens de agradecer.
-Tenho. Tenho sim. 
-Sempre que precisares ,é só chamares-me.
-Obrigada.
-Precisas que te traga alguma coisa? Uma manta ou assim?
Ela riu.
-Não sou um bebê ,sei cuidar de mim. Mas obrigada.
-Se amanhã sentires dor de garganta ,cabeça ,tonturas ,chama-me que eu tenho vários tipos de comprimidos.
-Provavelmente não vou precisar ,mas agradeço na mesma.
Ficámos em silêncio por uns segundos.
-Nunca mais faças algo assim. 
-Eu sei ,eu sei. -Ela riu-se ,mas eu ,mantive-me séria 
-Estou a falar a sério. Nunca. Mais. 
-Está bem. -Ela riu -Nunca mais.
-Espero mesmo que não. Porque senão eu vou entornar água a ferver em cima de ti.
-Não obrigada ,já tenho algumas queimaduras. 
Ela riu-se ,mas ao olhar para as pernas estavam ligeiramente avermelhadas devido ao chá a ferver que derramou.
-Coloca alguma água fria e irá melhorar.
-Vou fazer isso. E eu devia voltar para o meu quarto.
-Não voltas a ir lá para fora e metes água fria na queimadura?
-Prometo.
Levantei-me e levei-a ao quarto.
Voltei para o meu e olhei pela janela ,a chuva ainda batia muito forte ,o som era relaxante para ler ou dormir.
Sara-
Depois da Mei sair ,deitei-me na minha cama e mantive-me deitada o resto do tempo. 
Continuei a estudar e tal como prometido ,a Mei ajudou-me com isso. Chegando ao exame ,consegui fazê-lo ,apetecia-me morrer ou atirar com a caneta para a cabeça de alguém ,mas consegui. Depois de umas semanas ,recebemos os resultados ,esperei para os ler com a Mei.
Mei-
Ficámos sentadas na cama da Sara ,à espera que ela visse o resultado. Mas quando o abriu ,os olhos arregalaram-se e os meus também.
-Muitos parabéns!...
Ela abraçou-me com força enquanto segurava na folha. Abracei-a de volta e conseguia ouvi-la a soloçar.
-Sara? Estás bem? -Perguntei ainda a ser abraçada 
Ela afastou-se e estava com os olhos em lágrimas ,mas com um sorriso.
-O que se passa?! O resultado foi excelente! Não era o que estava à espera? 
-Não ,eu… Estou tão feliz. -Responde limpando as lágrimas 
Sorri e ela voltou a abraçar-me e eu a ela.
Fiquei abraçada a ela durante uns segundos ,mas logo depois ela largou-me com as mãos nos meus ombros.
-Obrigada. -Agradeceu
Manteve as mãos nos meus ombros e fez-me festas ,sinceramente, não me importei. Apenas avancei e coloquei-lhe as mãos no seu pescoço ,beijando-a. Ela continuou e eu continuei. As mãos dela desceram para o seu colo ,e eu com as mãos no pescoço dela. Quando me afastei ,voltei a sentar-me no meu lugar.
-Eu… Peço desculpa. -Disse
-Não tem mal. -respondi
Sorrimos e voltou a beijar-me. Fiquei surpreendida ,mas relaxei. 
Sara-
A Mei saiu passado uns minutos. Deitei-me na cama a olhar para o teto e uma mão na cabeça. Não consigo entender o que se passa ,o cabelo dela ,as piadas científicas que eu não entendo ,os olhos azuis dela a tornaram-se dourados com o sol ,o sorriso tímido escondido atrás da sua palma da mão. Porque é que me sinto tão bem ,mas ao mesmo tempo tão mal ,não faz sentido ,nunca me senti assim com a Marcy ,com a Sucy ou mais nenhuma outra amiga minha. Mas por alguma razão ,acontecia com ela.





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