Eclipse parte.2
-Ivy! Ivy, acorda!
Os seus olhos abriram-se. Marta olhava-a com o seu ar extremamente preocupado, como era seu costume.
-O que aconteceu?... - Perguntou tonta, sendo agarrada por Marta para não a deixar cair.
-Ivy! Ainda bem que estás viva! - Henry abraçou a amiga em lágrimas.
-O que se passou?... -olhando a para a sua mão, uma marca vermelha em forma de um circulo com alguns raios e pontos à sua volta, estava gravada no centro da sua palma
-Desapareces-te. Viemos à tua procura, mas estavas desmaiada no chão… -Marta pego-lhe na mão e as suas sobrancelhas ergueram-se em espanto e preocupação -Como é que isto aconteceu?! Devíamos levar-te aos teus pais para eles verem!
-Eu pensei que tinhas morrido!! - interrompeu Henry
-Ivy… - Marta olhou a amiga profundamente preocupada - O que aconteceu?…
-Eu... eu não sei. - Tentava lembrar-se. Mas relembrou então a salamandra..
Começou a olhar em volta, mas bem no seu cabelo, a salamandra dormia calmamente. Ivy pega-lhe nas mãos, acordando-a. Estava agora feliz e a aninhar-se nas suas palmas.
-O que é isso?! - Gritou Henry assustado.
- Eu não sei. Estava num ovo que encontrei nos arbustos, e não sei porquê, mas ela parece adorar-me.
Ivy ria, mas Marta observava a criatura curiosa.
-De onde será que ela veio?
-Uau! Ela não te queima!?
-Não! Não é incrível?!
-Muito fixe! Será que cospe fogo?
-Isso seria incrível!
Começaram a ouvir-se barulhos de alegria na aldeia.
-O festival vai começar. É melhor contarmos aos teus pais o que aconteceu.. - Apontou Marta
-Eu não quero preocupá-los, principalmente num dia tão importante! -Responde Ivy -Vamos para a aldeia e deixar isto para trás!
Ivy coloca a criatura no seu ombro e ,junto com Henry, vão avançando em direção à aldeia.
-Vais levar isso? - Pergunta apontando para a criatura.
-Acho que é o melhor a se fazer. Afinal, ela acabou de nascer.
-Então é melhor escondê-la, tenho a certeza que as pessoas não vão gostar de uma salamandra de fogo a andar por aí nas ruas.
É… - ri de nervoso
-Boa sorte para contares aos teus pais que agora tens uma salamandra de fogo que encontraste na floresta. -Acrescentou, ultrapassando-os com um sorriso vitorioso
-Pára de me estressar!
Com delicadeza, ela coloca a criatura no seu bolso, que espreita todo o caminho até à cidade, com extrema curiosidade por um mundo inteiro para descobrir.
Mesmo que agora estivesse com os seus amigos a caminho da aldeia novamente, o sentimento de medo e de que algo a iria apanhar não a abandonava. Sentia como se algo a seguisse a ela e à criatura. Onde estaria aquela raposa? De onde é que ela veio? O que eram aquelas vozes e sombras? O que aconteceu no momento em que aquela luz apareceu?
Chegando à aldeia, a alegria pairava no ar e o cheiro de comida destacava-se entre o perfume das flores nas narinas dos amigos! As barracas já estavam decoradas com flores e as crianças corriam de um lado para o outro. “O eclipse ainda nem tinha começado e o festival já estava ao rubro!” Pensou Ivy.
-Estou a morrer de fome! Que tal se fizermos uma pausa e fôssemos almoçar à barraca da minha família? - Sugeriu Henry
-Eu concordo! Estou a morrer de fome!
-Cá para mim devias fazer mais um turno para compensar o tempo que estiveste a dormir.
-brinca Marta..
Ivy soca-lhe o braço e eles vão até à barraca da família de Henry, onde uma mulher de cabelos pretos e pele clara, parecia fazer os toques finais da comida para se vender.
-Olá, mãe! Achas que podemos só levar um pouco de comida para almoçarmos?
-Olá, mãe do Henry! - Cumprimenta Ivy alegremente.
-Bom dia, meninas. Querem alguns bolinhos?
-Sim!
Marta dá-lhe uma cotovelada e continua.
-Sim, gostaríamos. Obrigada.
A mãe de Henry riu-se e entregou-lhes a comida.
Os três caminham pelo festival. Acabando de arrumar as barracas das suas famílias, poderiam aproveitar o resto do dia descansados.
-Sabem -começa Henry -Acho que devíamos dar um nome a esse animal, afinal, acho que “criatura”, não é um grande nome para se estar a repetir. Imaginem: “Criatura, hora de passear!” Soa muito mal.
-É verdade -Responde Ivy -Que nome lhe ficava bem?
-Eu sugiro Sal! Ou Vulcânus! Talvez… Charmindaren!
-Um: Esses nomes são horríveis. Dois: Se vocês lhe derem um nome, irão se apegar a ele, e quando ele morrer de fome ou desidratado, não venham chorar para mim.
-E que tal dares sugestões de nomes em vez de estares a ser uma desmancha prazeres? -diz Henry com irritação
Marta revira os olhos num suspiro, virando-se para Ivy:
-Ivy, por favor, tem alguma noção. Essa coisa vai morrer em uns dois dias quando vocês se esquecerem de o alimentar ou assim.
Mas Ivy nem a tinha ouvido, apenas olhava para a fonte no centro da aldeia. Andando na sua direção, ela olha para o símbolo do sol no topo da fonte, a criatura espreita pelo bolso, ficando hipnotizado juntamente com a Ivy.
-Ashes. -murmura
-O quê? -questiona Henry em confusão
-O seu nome. -vira-se e repete -Ashes.
-Porque Ashes? -pergunta Marta
-Eu não sei. -encolhe os ombros e continua -Apenas me lembrei.
-Se o dizes.
-Eu adoro! -diz Henry com alegria -Ashes! A salamandra de fogo! Número 0004!
-O quê? -gesticula Marta, mas é agarrada, tal e qual a Ivy, e puxada numa direção
-Venham, estão ali a vender bolinhos de framboesa!
-Henry! Espera! -Responde Marta, tentando acompanhar o ritmo do amigo
Ivy ria deles, indo até a mais uma fila de barracas.
O dia estava a começar a entrar no crepúsculo, o significava, que o eclipse híbrido iria começar.
Riam e conversavam enquanto visitavam todas as barracas, mas Ashes não parava de se mexer dentro do bolso de Ivy, eles decidiram parar num beco para verificar se estava tudo bem.
-O que se passa com ele? -Questiona Marta
-Será que está com fome? -Sugere Henry
Ashes ergue o seu pescoço para olhar para os olhos de Ivy, e mais uma vez, uma forte dor de cabeça atingiu-a. Encolhendo-se com a dor de cabeça, nem sequer ouviu quando um bando de rapazes se aproximou deles.
-Olha só quem veio estragar a festa. -um deles aproxima-se dos três -Ivy Conner e companhia.
Caleb, o rapaz que persegue a Ivy e os seus amigos desde crianças.
-Desaparece. -diz Henry
-Ivy, o que se passa? - Pergunta Marta, segurando-a com força.
-O que foi, Ivy? -Caleb avança na sua direção com o nariz empinado -A culpa de teres estragado o festival está-te a consumir? Aposto que magoa.
Ivy não responde, a sua cabeça latejava, fazendo o som da voz dele ser abafada.
-Sai de perto dela! -Ameaça Henry, mas é agarrado por um dos amigos dele
-Deixa-o em paz! -Grita Marta
-Não estou a falar convosco! -Caleb empurra Marta, que é impedida de revidar pelo outro amigo dele -Ei! Responde! -Tenta agarrar no braço de Ivy, mas Ashes salta para a sua cara -O que é esta coisa!? -Caleb grita
Os dois amigos de Caleb largam a Marta e Henry, tentando ajudar Caleb a tirar Ashes da sua cara. Um deles pega nele e atira-o contra a parede, caindo sem forças no chão. Henry corre até Ashes, mas as suas mãos são queimadas. Caleb chuta Ashes, empurrando-o novamente.
-O que raios é isso?!
Ivy vê pela brecha dos seus olhos cheios de lágrimas, Ashes no chão. O pensamento de que Caleb o tivesse matado invadiu-a. Ela levantou-se, ignorando toda a sua dor, e aproximou-se de Caleb com o punho fechado, uma liz começou a escapar do símbolo da sua palma.
-O que é que queres…! -Vira-se confuso, mas com frustração no seu tom de voz
A sua fúria é interrompida por uma grande dor causada pelo soco flamejante de Ivy. Marta olhou para Ivy, os seus olhos brilhavam fortemente em carmim, e uma grande raiva consumia-a. O rapaz que empurrou Ashes, avançou na sua direção, mas Ivy esquiva-se e dá-lhe um soco nas costelas, fazendo-os ir contra a parede. Ela vira-se para o outro rapaz, mas ele corre assustado para longe.
-Ivy?... -Marta tentou chamá-la, mas ela vai em direção a Ashes, pegando-o nas suas mãos
O calor das palmas de Ivy, começou a curar a sua pele vulcânica. Mas sendo interrompida por um forte soco de Caleb.
Ela vira-se, a sua força tinha desaparecido, e agora, Caleb olhava para ela com grande revolta. Ashes olhou para ela com fractura e muita dor. Ele deu um passo em frente dela, fazendo-a recuar. Henry e Marta tentaram avançar, mas foram distraídos por uma forte luz.
O eclipse híbrido estava a começar, as pessoas já se reuniam no centro da aldeia. Os murmúrios de preces ecoavam por todos os cantos, e os últimos raios de sol tornavam-se cada vez mais fortes.
Uma luz dourada começou a surgir em volta de Ashes, que se erguia com dificuldade e dor. O seu corpo aumentou de tamanha, a sua pele começou a abrir, fazendo as rachaduras da sua pele parecerem rios de lava, dentes e garras cresceram, asas nas suas costas abriram-se e os seus olhos, agora vermelhos vivos, miravam na direção de Caleb, com raiva e sem hesitação, avançou em cima dele. Derrubou-o no chão e esmagou-o na sua pata. O outro rapaz correu assustado.
Ivy gritou por Ashes, que a ignorou e concentrou-se na sua vingança. Caleb ,inutilmente tentou soltar-se das fortes garras de Ashes, mas foi paralisado por um forte rugido, chamando a atenção da população e da raposa que observava tudo dos telhados.
O eclipse estava a poucos segundos de acontecer.
Caleb, tentou gritar quando viu as chamas acenderem-se no fundo da garganta do dragão, mas a pata de Ashes impedia qualquer circulação de ar. Ivy tentou avançar, mas foi agarrada por Henry e Marta.
O sol e a lua uniram-se.
-Ashes! -Gritou Ivy em lágrimas de desespero
A luz que os cegaria aproximava-se a toda a velocidade, engolindo tudo numa luz branca por onde passava. As lágrimas e o suor escorria pela pele de todos, a garganta de Ivy doía de tanto berrar por Ashes, mas a sua fúria apenas aumentava cada vez mais, pronto para atacar.
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