Eclipse parte.4
Ela retirou o seu capuz e pegou no pulso de Ivy, escolhendo entre observá-la em confusão e o símbolo de um Sol na sua palma. O símbolo parecia chamar pela mulher, que aproximava a sua mão da dela, mas antes que os dedos pudessem tocar na palma de Ivy, ela soltou o seu pulso e respondeu exaltada:
-O que raios se passa aqui?! Quem é você? Mandou a raposa vir atrás de mim? Como sabia que estávamos no beco? O que era aquele fumo? O que se passa?!
-Ivy, calma. -Disse a mulher pacificamente, mas Ivy continuava a fazer as suas milhares de perguntas, até ela se irritar e chamá-la -Ivy! Controla-te!
Ivy calou-se no mesmo instante, abrindo a boca para falar, foi interrompida pela mulher.
-Preciso que me digas como fizeste esse símbolo. Nasceste com ele, ou apareceu na tua pele de repente?
-Espere lá! -Interviu -Eu é que devo fazer as perguntas aqui! O que se está a passar? Num momento estou a correr na floresta atrás de uma raposa que adora perseguir-me, noutro estou com um ovo estranho feito de lava na minha frente, que sabe-se lá como, Não me queimava as mãos! Depois, uma criatura muito fofa sai desse ovo, feita de lava? Sim, mas não importa, porque afinal… Isso não me queima! Mas depois, essa criatura fofinha torna-se num animal gigantesco, que estava prestes a dar fim à vida de um rapaz! Ele é irritante e realmente merecia levar com um raio flamejante na cara? Sem dúvida! Mas mesmo assim, não está certo! Você aparece e, sei lá como, salva-nos, não nos dá UMA explicação, fico de castigo e uma raposa aparece e trás-me até ao meio da floresta! -Berra, ecoando pelas árvores e fazendo os pássaros voarem para longe
-Acabaste?
-Nem de perto!
-Então pára de falar, estou a ficar com dores de cabeça.
-Pode, por favor, dizer-me o que se passa?
A mulher olhou para ela e suspirou. A frase seguinte fez uma onda de arrepios percorrer o corpo de Ivy, desejando não ter saído por aquela janela.
-És o Sol, Ivy. Esse símbolo que tens na tua mão, é onde o teu poder está canalizado, onde tu o canalizaste.
-Eu sou o Sol? Como assim? Como pode ser? Que poder?
-Neste mundo, existem os descendentes do Sol, aqueles que nascem com a tarefa de carregar o poder do Sol na Terra.
-Está a dizer-me, que eu carrego o poder do Sol?
-Não. Bem… Eu pensei que não era possível. -Refletiu por uns segundos, finalmente reparando em Ashes adormecido, isso pareceu despertar-lhe uma ideia, mas logo apagou-a -Quando uma pessoa nasce com o poder do Sol, ela carrega-o até à sua morte, quando o corpo morrer, o Sol entregará o seu poder para um próximo, até esse morrer, e assim continuaria o ciclo. Pensei eu, pelo menos…
Ivy paraliza, tentando processar toda a informação.
Ela tinha o poder do sol? Era por causa disso que tinha nascido diferente? O que é que a família dela iria achar disso e os seus amigos? Olhando para Ashes, pega nele e mostra-o à senhora.
-Sabe explicar o que lhe aconteceu? Ele vai ficar bem?
Ela pega nele e observado cuidadosamente, mas quando pousado nas suas mãos, o calor de Ashes diminui, volta a entregá-lo a Ivy e a sua temperatura volta ao normal.
-Segura-o com ambas as mãos. -Disse ela, Ivy obedeceu -Agora, fecha os olhos.
Ivy fecha-os, sentindo apenas a leve brisa da noite no seu cabelo e o calor de Ashes nas suas palmas.
-Concentra-te em canalizar o calor do teu corpo nas tuas palmas.
O corpo de Ivy arrefecida aos poucos e o calor começava a concentrar-se nas suas palmas, que subia para Ashes e lhe aquecia o pequeno corpo, mas Ivy estava gelada, tremia por todo o lado e as suas mãos doíam intensamente devido ao calor concentrado.
-Chega.
Com a ordem, Ivy olhou para Ashes, que agora estava acordado e com a energia completamente reposta. O seu corpo ainda estava frio, mas Ashes aninhou-se nas suas mãos, compartilhando o calor.
-Parece que vocês conseguem transferir a energia para outro.
-O que é que isso quer dizer?
-Quer dizer, que tu não és um portador do Sol, mas algo com mais domínio sobre o eu poder. Consegues fazer coisas que eu como portadora eu não consigo.
-Mas o que é que isso significa.
-Não sei.
Uma onda de tristeza atingiu Ivy, pensava que finalmente encontraria respostas, que saberia o porquê da sua diferença, mas apenas recebeu mais motivos para ser chamada de diferente.
-Ivy, podemos descobrir isto juntas, podemos descobrir o que isto tudo significa.
-Como?
-Vem comigo, vamos à procura de respostas.
Ivy ficou em silêncio. E a sua família, e os seus amigos, a sua vida? Mas ao mesmo tempo…Ela queria saber quem era, o porquê da sua diferença. E esta era a sua oportunidade, mas a ideia de apenas contar aos pais sobre tudo isto já lhe dava a volta ao estômago. Eles viriam-na de forma diferente? Eles sabem que Ivy está relacionada com o Sol?
-Eu sei que é difícil, Ivy. Não estás sozinha, eu estou contigo. Vamos descobrir sobre ti, sobre mim, sobre o eclipse juntas. -Disse a mulher, como se conseguisse ler os seus pensamentos
Ela congelou por um pouco. O medo atingia-a como um raio, mas esta era a sua chance. A chance de finalmente saber quem era. E ela não iria deitar fora a sua chance.
-Eu vou! Mas primeiro…tenho de explicar isto à minha família.
-Entendo perfeitamente.
-Dá-me um tempo, por favor. Tenho de os preparar para isto, e sinceramente…eu também ainda quero processar um pouco… Tem tanta coisa a passar-me pela cabeça, sinto que vou explodir!
A mulher sorri levemente e continua:
-Quando estiveres pronta, chama a Flames. Ela irá avisar-me e eu irei buscar-te para partirmos. -Explica gesticulando para a raposa sentada ao lado dela
-Certo!
Ivy estava pronta para voltar para casa, até que voltou a virar-se para a mulher.
-Desculpe, mas… Eu ainda não sei o seu nome.
-Phoebe. -Responde ela
-Até logo, Phoebe.
-Até logo, Ivy. -caminhou lentamente de volta para a floresta com Flames -E cuidado com a espada, ainda cortas a cabeça ao teu irmão. Tiveste sorte à pouco, mas a sorte não te vai salvar sempre.
Ivy ficou boquiaberta. Como é que ela sabia que quase tinha matado o irmão à pouco!
-Aquela mulher é mesmo misteriosa.
Ashes concordou com a cabeça.
Eles voltaram para casa, entrando no quarto pela janela. Só não esperava que quando entrasse, estaria lá a sua avó à sua espera, com Cole ainda a dormir calmamente na cama da irmã.
-Tens muita coisa para explicar, minha menina. -Disse a avó num tom sério
-Olá avozinha… -riu nervosa
Ashes alternava o olhar entre Ivy e a avó. Como Ivy estava nervosa e envergonhada, isso passou para Ashes, que se encolheu com vergonha no ombro dela, imitando-a.
A avó sentou-se na cama à espera de uma resposta, com Ivy em pé na sua frente, que tentava encontrar as melhores palavras para explicar. Mas antes que pudesse dizer alguma coisa, o interrogatório começou:
-Onde estavas? Com quem estavas? O que é essa criatura no teu ombro? De onde veio? Como a encontraste? Como se chama e o que come?
Ivy tentou processar todas as perguntas, mas no meio do seu raciocínio, a avó aproximou-se e pegou-lhe na espada sem grande esforço.
-Avó, tenha cuidado! Vai magoar-se!
-Tu é que te vais magoar! Agora deixa-me avaliar isto bem… -ela observou a espada, como se conseguisse ver quem a tivesse feito. Suspirou com alegria, mas logo continuou o sermão para Ivy -Não penses que a tua avozinha é uma velhota fraca e estúpida. Ouviste-me bem, menina?
Ivy acenou com a cabeça envergonhada. A avó começou com um tom mais calmo que antes:
-Onde estavas, Ivy?
-Na floresta.
-Porque é que foste para lá a meio da noite?
Ela não queria responder, contorcendo-se de medo.
-Ivy, responde.
-Eu segui uma raposa, que me levou até à senhora que me salvou a mim e aos meus amigos.
-Seguiste uma raposa? -mas ignorou essa pergunta e escolheu outra -E o que é que ela te disse?
-Bem… -Ivy riu nervosa -Ela disse que…eu…e ela…tínhamos…que eu tinha…poderes? -Sorriu, tentando aliviar o clima, mas a avó apenas se manteve incrédula -Eu também não entendi muito bem, mas explicou algo sobre a lenda de Sol e Lua. E ao que parece…Eu tenho o poder do Sol.
A avó parecia tentar processar tudo aquilo. Ivy aproximou-se e implorou-lhe:
-Avó, por favor, não conte aos meus pais. Eu ainda quero arranjar a melhor maneira de o fazer.
-A minha neta tem o poder do Sol?
-Ao que parece… -ela riu, coçando a sua nuca
A avó olhou para Ashes confusa.
-E a salamandra?
-Este é o Ashes. -Explica pegando nele e aproximando-o da avó com cuidado -Encontrei-o num ovo enquanto estava na floresta antes do eclipse.
-E ele também tem isso do Sol?
-Eu ainda não sei… Ainda tenho muito de aprender. E é por isso que… Eu vou à procura de respostas com a Phoebe.
-Respostas? Phoebe? SAIR DE CASA?!
Cole remexeu-se no sono. Ivy abaixou a voz calmamente.
-Eu sei eu sei… A Phoebe é a mulher do festival, ela disse que poderia ajudar-me com os meus poderes, mas para isso, eu preciso ir.
-Ivy, isto é muita coisa. Ainda és muito jovem, e se ela te estiver a enganar?
-Avó, eu vi. Eu vi coisas, uma figura de luz tal como tu me constavas em pequena. Eu experimentei o poder, mas não sei controlá-lo, e tenho de o fazer se não quiser magoar ninguém.
A avó suspirou, a incerteza e o medo de perder a neta, os pensamentos de antigas guerras. Ela não queria que Ivy passasse por uma. A sua avó tinha conseguido escapar das guerras, mas agora, Ivy queria lançar-se para o perigo…
-Avó, pensa nas pessoas que posso ajudar se conseguir controlar os meus poderes. Se conseguir, talvez as pessoas mais do que como um desastre…
A avó abraçou-a com força, sem deixar Ivy respirar.
-Avózinha! Ar!
Ela largou-a e afagou-lhe o cabelo e rosto.
-Tu nunca foste um desastre, Ivy, foste uma benção. -Beija-lhe a testa, deixando um calor de ternura, muito mais aconchegante do que quando Ivy e Ashes partilharam as suas energias -Só não quero que te magoes.
-Não vou, avó. Prometo-lhe.
A avó sorriu com ternura, Ivy abraçou-a com força.
Saindo do abraço, a avó ordenou Ivy para dormir, pegando em Cole para o levar para o seu quarto.
A avó, beijou-lhe a testa antes de sair do quarto. Ivy deitou-se na sua cama, agora com o seu pijama branco, a olhar para o teto. Os pensamentos daquele dia percorriam na sua cabeça. O Sol? O poder que ela tinha era perigoso, ela poderia magoar alguém se não se controlasse. O medo de magoar os seus entes queridos perseguia-a, mas acalmou-se ao ver Ashes a aninhar-se na almofada para dormir. As frechas abriam-se a cada respiração, revelando lava a escorrer em veias. Ivy sorriu e virou-se para a janela, observando as estrelas antes de fechar os olhos.
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